História da Freguesia de Bouçoães
Pré-História e Ocupação Romana
Bouçoães é uma povoação e freguesia de remotíssima fundação e povoamento. A ocupação da área da freguesia de Bouçoães ao longo do tempo encontra-se documentada pelos inúmeros vestígios que os seus habitantes foram deixando.
Sabe-se que a área territorial de Bouçoães já era habitada no período neolítico. O Padre Cardoso, na sua obra corográfica, referia-se já à existência de vestígios neolíticos: "[Bouçoães] Está situada em sítio plano, junto a um cabeço onde se descobrem alguns vestígios de muralhas e segundo mostram algumas escassas relíquias e monumentos, foi uma grande povoação em tempos antigos".
Perto da igreja matriz da Senhora da Ribeira, existem ainda alguns vestígios de castros actualmente denominados de Muralha e Cabeço. Dentro das muralhas desses castros, são visíveis os restos das construções circulares que caracterizam os castros, além de uma parte de um bloco de granito que deveria ter tido funções religiosas.
Outros locais do termo da freguesia de Bouçoães onde surgiram vestígios pré-históricos foram o Castro da Senhora da Ribeira (aí apareceram muitas telhas de rebordo, outros pedaços de cerâmica e moedas) e o Sítio do Cabeço (onde se encontram os restos de um castelo medieval).
A toponímia demonstra também o precoce povoamento da freguesia de Bouçoães. O próprio nome da freguesia é um significativo remoto de bouças, que por corrupção veio a dar em Bouçoães ou Bouçoais. Nas Inquirições de 1251, aparece a forma Bouzoos.
Os diversos lugares que constituem a freguesia de Bouçoães apontam também para a realidade acima referida:
- Ermidas deve estar relacionado com algum pequeno templo existente no local ainda antes da fundação da Nacionalidade.
- Lampaça, topónimo muito usual no norte de Portugal, deriva do arcaico "lampas", palavra que designava os sinais luminosos utilizados pelas populações castrejas.
- Lodões é também muito antigo e deve ser um genitivo de um nome pessoal de origem provavelmente germânica.
- Picões virá de pico (factor geográfico).
- Real Covo é um designativo de rio, não de rei.
- Tortomil tanto pode ser de origem latina, como de origem germânica.
- Vilartão, lugar onde se situa o importante Solar dos Morgados e um singelo cruzeiro, também tanto pode ser de origem latina, como pode ser um nome germânico.
Bouçoães foi ocupada pelos Romanos aquando da sua invasão da Península Ibérica (século III a.C.), os quais deixaram inúmeros vestígios da sua passagem na área territorial da freguesia. Um desses vestígios é uma peça escultórica com inscrições dedicadas a Júpiter, deus supremo da antiga religião do povo romano, a qual foi encontrada em Tortomil.
Sabe-se que, à semelhança do que faziam em todos os territórios que ocupavam, os Romanos obrigaram as populações que já aí viviam a sair dos seus castros singelos e a ir para locais mais organizados administrativamente. Os Romanos organizavam os territórios que dominavam em províncias, subdivididas em dioceses, conventos, municípios e outras fórmulas, o que lhes permitia uma melhor administração, arrecadar impostos, exercer a justiça e manter a segurança no interior dos povoados e do interior dos povoados relativamente ao exterior.
Paróquia de Santa Maria da Ribeira
A igreja de Santa Maria de Bouçoães, bem como a própria origem da paróquia de Santa Maria da Ribeira, encontrava-se intimamente ligada ao castro existente. De acordo com as Inquirições de 1258, a instituição paroquial de Santa Maria da Ribeira ("parrochia de Santa Maria de Riparia"), antecessora desta de Bouçoães, deu-se no séc. XIII. Tinha então três Igrejas filiadas:
- São Martinho de Fermil
- São Lourenço de Vilartão
- Santa Maria de Bouçoães
As três igrejas referidas foram erigidas na paróquia de Santa Maria da Ribeira. Mais tarde, por várias circunstâncias, a paróquia inicial desapareceu e a de Bouçoães ficou em representação, recebendo o mesmo título – Santa Maria da Ribeira. Daí decorre o facto de nesta freguesia permanecer o título da antiga paróquia no orago – Nossa Senhora da Ribeira, antiga Santa Maria da Ribeira.
A. Veloso Martins, em "Monografia de Valpaços", explica como se procedeu a respectiva "passagem" paroquial:
"Nesta freguesia de Bouçoães, permanece o título de antigamente em relação à paróquia de Ribeira, isto é, no orago, Nossa Senhora da Ribeira, antiga Santa Maria da Ribeira. A explicação é simples: (...) a igreja de Santa Maria de Bouçoães, na paróquia de Santa Maria da Ribeira, era tão distinta desta como das outras duas; mas sobre ela fica o cabeço de castro (Muralha) e é a este que deve buscar-se, até porque aí houve população vasta, a origem da paróquia de Santa Maria da Ribeira, com o templo sobre o cabeço sucedendo a algum do paganismo ao castro e respectiva citânia.
Aquelas duas igrejas eram todas "sufragâneas" como se diz nas Inquirições, isto é, foram erectas na paróquia de Santa Maria da Ribeira. Mais tarde, por velhice do templo matriz, ou principalmente pela vida paroquial nas três em separado, a paróquia inicial desapareceu substituída por elas, e a de Bouçoães que era o do templo mais vizinho da velha igreja matriz e além disso com a mesma titular, foi naturalmente a que ficou representando, recebendo-lhe o próprio título, Santa Maria da Ribeira, pela mesma titular facilitada pois que os títulos paroquiais não desapareciam intencionalmente, antes com especial cuidado se conservariam.
Deste modo herdeira a de Bouçoães das prerrogativas da igreja matriz, ficaram-lhe subordinadas, devido à origem ou filiação, aquelas duas, de Fermil e Vilartão. As Inquirições de 1258, referidas, dizem da Igreja de Santa Maria da Ribeira, isto é, da matriz inicial (que não propriamente da de Santa Maria de Bouçoães, que lhe recebeu o título e a representação)".
Bouçoães nem sempre pertenceu ao concelho de Valpaços. Até 1853, esteve integrado no concelho de Monforte de Rio Livre, extinto nesse ano. Também a aldeia de Vilartão era uma das freguesias constituintes desse antigo concelho. Com a extinção do concelho de Monforte de Rio Livre, Vilartão passou a ser uma das povoações que passaram a constituir a reformulada freguesia de Bouçoães, integrada no reformulado concelho de Valpaços.
Manuel Buíça, o Regicida
Manuel dos Reis da Silva Buíça, o regicida que, no dia 1 de Fevereiro de 1908, no Terreiro do Paço em Lisboa, disparou mortalmente contra o então rei de Portugal D. Carlos I e o contra o príncipe herdeiro D. Luís Filipe, era natural de Bouçoães, tendo aqui nascido no dia 30 de Dezembro de 1876.
No dia 28 de Janeiro de 1908, quatro dias antes do regicídio, Manuel Buíça escreveu o seu testamento. Trata-se de um documento interessante, digno de nota, e que aqui é recordado, escrito com a grafia da época:
"Manuel dos Reis da Silva Buiça, viuvo, filho de Augusto da Silva Buiça e de Maria Barroso, residente em Vinhaes, concelho de Vinhaes, districto de Bragança. Sou natural de Bouçoais, concelho de Valpassos, districto de Vila Real (Traz-os-Montes), fui casado com D. Herminia Augusta da Silva Buíça, filha do major de cavalaria (reformado) e de D. Maria de Jesus Costa. O major chama-se João Augusto da Costa, viuvo. Ficaram-me de minha mulher dois filhos, a saber: Elvira, que nasceu a 19 de dezembro de 1900, na rua de Santa Marta, número… rez do chão e que não está ainda baptisada nem registada civilmente e Manuel que nasceu a 12 de setembro de 1907 nas Escadinhas da Mouraria, número quatro, quarto andar, esquerdo e foi registado na administração do primeiro bairro de Lisboa, no dia onze de outubro do anno acima referido. Foram testemunhas do acto Albano José Correia, casado, empregado no comércio e Aquilino Ribeiro, solteiro, publicista. Ambos os meus filhos vivem commigo e com a avó materna nas Escadinhas da Mouraria, 4, 4o andar, esquerdo. Minha família vive em Vinhaes para onde se deve participar a minha morte ou o meu desapparecimento, caso se dêem. Meus filhos ficam pobrissimos; não tenho nada que lhes legar senão o meu nome e o respeito e compaixão pelos que soffrem. Peço que os eduquem nos principios da liberdade, egualdade e fraternidade que eu commungo e por causa dos quaes ficarão, porventura, em breve, orphãos. Lisboa, 28 de janeiro de 1908. Manuel dos Reis da Silva Buiça. Reconhece a minha assignatura o tabelião Motta, rua do Crucifixo, Lisboa".
Fonte: Wikipédia, a Enciclopédia Livre
URL: pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Buíça
Consultado no dia 17 de Junho de 2010